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Projeto
ousado traz inovação para proteção e recuperação de
florestas
Gestores do Fundo Vale abrem o primeiro capítulo da história que começou em
alguns rabiscos em uma folha de guardanapo e se tornou realidade com a criação
de cinco startups voltadas à recuperação de florestas – dentro de um projeto de
larga escala e inovador
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O Brasil abriga grande parte da biodiversidade e das florestas tropicais no
mundo, recursos naturais que poderiam tornar o país líder na bioeconomia.
Entretanto, a degradação
de ecossistemas e o desmatamento,
assim como o risco
climático, estão em níveis alarmantes – contribuindo para a
geração de impactos ambientais, sociais e econômicos negativos no país. Essa
lógica precisa ser invertida e o setor produtivo tem um papel-chave nessa
missão. Desde 2009, o Fundo Vale aporta recursos para apoiar o
fortalecimento de negócios de impacto socioambiental positivo e potencializar o
desenvolvimento econômico sustentável em várias regiões do país. Seu mais novo
desafio: gerir e apoiar o alcance do Compromisso Florestal Voluntário lançado
pela Vale
em 2019, que tem como meta restaurar e proteger 500 mil
hectares de florestas até 2030. Para contar os detalhes desse
compromisso – incluindo objetivos, parcerias estratégicas e potenciais impactos
positivos – e falar sobre a atuação do Fundo Vale nesse desafio, convidamos
Patrícia Daros, Diretora de Operações, e Gustavo Luz, Gerente do Fundo Vale
& Participações. Confira a entrevista completa:
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Quais
são os objetivos traçados para o Compromisso
Florestal Voluntário 2030 e qual o papel do
Fundo Vale nesse desafio?Patrícia
Daros – O compromisso florestal é
da nossa mantenedora, a Vale. Mas vimos uma
oportunidade de, com todo o nosso legado e histórico
de atuação, propor à Vale um caminho interessante
para atingir o compromisso de proteger e/ou
recuperar 500 mil hectares além de suas fronteiras.
Como o Fundo Vale tem trabalhado em parceria com
muitas organizações na temática florestal nos
últimos anos, entendemos que tínhamos a capacidade
de ajudar a empresa a atingir esse compromisso. Vale
dizer que criar impacto socioambiental sempre foi o
nosso drive, o nosso diferencial enquanto
organização não governamental.
Nós – eu,
o Gustavo e um consultor que trabalha conosco –
começamos com uma discussão sobre como seria
possível manter a floresta em pé, a partir de um
modelo produtivo sustentável, e desenhamos um
esquema em um guardanapo. Depois de aprofundarmos a
discussão, oferecemos à Vale uma proposta de
trabalho com a perspectiva de restaurar 100 mil
hectares por intermédio de negócios agroflorestais,
capazes de gerar impactos sociais e ambientais
positivos. Logo após, ampliando a proposta para a
perspectiva da proteção florestal, pensamos em
trabalhar com projetos de REDD+
para os demais 400 mil hectares, ou seja, projetos
de desmatamento evitado com ganhos para quem está
preservando essas áreas.
Gustavo
Luz – Quando a Vale lançou esse
desafio, havia a intencionalidade evidente de gerar
impacto socioambiental positivo, mas ainda não havia
um projeto detalhado. Então, o Fundo Vale, com sua
experiência de mais de 10 anos no desenvolvimento de
projetos de preservação e fortalecimento de cadeias
produtivas, ofereceu uma sugestão para a empresa
cumprir o desafio.
Nossa proposta foi
sobre o Fundo desenvolver negócios agroflorestais
para atingir 100 mil hectares de recuperação
florestal e, posteriormente, projetos de REDD+ como
alavanca para atingir 400 mil hectares de proteção
florestal.
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Os sistemas
agroflorestais (SAFs) têm
relevância, porque são formas de recuperar áreas
degradadas de modo produtivo, envolvendo
parcerias com pequenos produtores, ou seja,
podem gerar impacto social junto com o
ambiental. Além disso, a agenda de proteção
florestal foi pensada em um tripé de conservação
ambiental, considerando também impactos sociais,
combate ao desmatamento da Amazônia e
contribuição para compensação de emissões de
gases de efeito estufa. Desta forma, o
Compromisso Florestal Voluntário da Vale está
hoje sob a gestão do Fundo Vale.
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Quais
negócios de impacto estão sendo apoiados
pelo Fundo Vale para alcançar a meta de
recuperação de áreas degradadas?
Patrícia
Daros – Quando iniciamos esse
processo, em meados de novembro de 2019, não
existia uma empresa pronta no mercado que
pudesse escalar nessa perspectiva de 100 mil
hectares. Então, investimos na originação e na
incubação de duas startups
agroflorestais – a Belterra e
a Caaporã –, que nos ajudaram a implementar um
projeto-piloto de recuperação de mil hectares
por meio de SAFs. Ao mesmo tempo, avançamos na
pesquisa de mercado de negócios agroflorestais
com impacto socioambiental positivo e potencial
de escala. Ao final de 2020, chegamos em um
portfólio de empresas que eram aderentes ao
nosso conceito. Gustavo
Luz – Paralelamente, lançamos
uma proposta de inovação aberta, chamada Desafio
Agroflorestal. Uma das
participantes, a Inocas, acabou sendo
incorporada ao nosso portfólio. Hoje,
apoiamos cinco negócios, que, por sua vez, são
responsáveis por recuperar cinco mil hectares em
2021. Três deles foram originados dentro do
Fundo Vale: Belterra, que trabalha sistemas
agroflorestais com cacau como espécie-chave;
Caaporã, que mescla produção de animais com
árvores nativas; e Inocas, juntando produção de
animais com a palmeira macaúba. Após avaliação
de mais de 60 iniciativas existentes no mercado,
priorizamos mais duas no nosso portfólio: a
Bioenergia, que restaura áreas por meio da
fruticultura orgânica na Bahia, sendo que 80% de
seus trabalhadores são de origem quilombola; e a
Regenera, a menos madura do portfólio, mas que
trabalha com sistemas agroflorestais e silvipastoris
no coração da Amazônia.
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“Não
vamos fazer o mais simples, vamos fazer o de
maior impacto.”
Gustavo Luz, Gerente do Fundo Vale &
Participações
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Quais
são as organizações parceiras desta
iniciativa e como a cooperação estratégica
tem sido desenvolvida?
Patrícia
Daros – Costumo dizer que um
dos maiores ativos do Fundo Vale é sua rede de
parcerias. E, no âmbito desse trabalho, não
poderia ser diferente, afinal, ele tem um
componente de inovação que requer que muitas
expertises sejam compartilhadas para que seja
alcançado um resultado mais
efetivo. A primeira parceria foi com
a Impacto Plus, uma empresa que tem no seu time
um conhecimento de Amazônia muito grande e que
trouxemos para discussão sobre a estratégia da
iniciativa. Depois a Palladium, uma consultoria
internacional que já desenvolve programas com
componentes de impacto socioambiental para ser
nossa parceira na execução desse conceito. Para
começar a colocar a mão na massa, fizemos
parceria com a Florestas Engenharia, que foi um
embrião das duas startups (Belterra e Caaporã) e
teve início o processo de implantação dos
hectares. Trouxemos também o Imaflora, uma
organização muito conceituada em certificação
florestal, para validar e certificar aquilo que
estamos fazendo. Além disso, olhamos para as
expertises que tínhamos dentro da Vale. Junto
com o Instituto
Tecnológico Vale, que atua há
10 anos na Amazônia, mapeamos quase um milhão de
hectares de áreas degradadas e pesquisamos
cadeias produtivas com potencial de recuperação,
como a cadeia do cacau. Também trouxemos, para
nos apoiar, a Reserva
Natural Vale, que tem
quarenta anos de experiência em pesquisas de
silvicultura e projetos de
reflorestamento. Gustavo
Luz – A nossa abordagem é:
não vamos fazer o mais simples, vamos fazer o de
maior impacto. E isso se dá por meio de
parcerias. Paralelamente aos parceiros que a
Patrícia citou, há mais duas instituições que
estão nos ajudando a olhar o impacto da
iniciativa. Uma é a Move Social, que trouxemos
para fazer nossa teoria de mudança e escopo do
investimento de impacto dos 100 mil hectares.
Outra é a IETS, que conecta a avaliação de
impacto da estratégia do Fundo Vale com a
avaliação de impacto da nossa mantenedora, além
de nos ligar com a academia, com a proposta de
colocar instituições de ensino para acompanhar o
projeto por 10 anos e avaliar o impacto
gerado. Com relação aos projetos de
REDD+, como precisam de validação, estamos
também fazendo reuniões com diversos atores –
privados, públicos e da sociedade civil – para
desenvolvê-los sempre com o olhar atento para a
adicionalidade. Entendemos que faremos maior
diferença a partir da originação de novos
projetos com critérios socioambientais bem
rigorosos e preço justo pelo carbono gerado a
partir do desmatamento evitado.
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O
compromisso de recuperação e proteção de
florestas, além de gerar benefícios
ambientais, poderá beneficiar a economia e a
sociedade brasileira no curto e/ou longo
prazo?
Patrícia
Daros – Com certeza. O que o
Fundo Vale está fazendo não é só entregar tantos
mil hectares de áreas recuperadas, implantar
milhares de árvores na Amazônia ou em outro
bioma. Estamos construindo um ecossistema de
negócios de impacto socioambiental com foco em
recuperação e proteção em larga escala. E isso é
bastante relevante, porque pode mudar o mercado
florestal no Brasil, pelo tamanho da iniciativa,
bem como por todo o conhecimento que está sendo
gerado. Também estamos buscando trazer uma
alternativa econômica para quem vive na e da
floresta.
Gustavo
Luz – Temos um compromisso
até 2030, mas estamos preocupados com o que vem
depois. O investimento em negócios
agroflorestais é crítico para esse legado
pós-2030.
O impacto que estamos
mirando, para além de plantar árvores, é geração
de postos de trabalho e incremento de renda
familiar, sobretudo para que quem viva da
floresta tenha boa qualidade de vida e que sua
atividade produtiva esteja conectada a uma
cadeia de valor que se mantenha fortalecida após
2030. Também buscamos a distribuição justa dos
benefícios financeiros dos negócios com quem
vive da floresta. Somado a isso, estamos
conversando com agentes de cadeias produtivas
para desenvolver arranjos com potencial para
recuperação florestal – analisamos mais de 15
cadeias, mas demos prioridade à da pecuária e do
cacau.
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“Estamos
construindo um ecossistema de negócios de
impacto socioambiental com foco em
recuperação e proteção em larga escala. E
isso é relevante porque pode mudar o mercado
florestal no Brasil, pelo tamanho da
iniciativa, bem como pelo o conhecimento
gerado.”
Patrícia Daros, Diretora de Operações do
Fundo Vales
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O
Compromisso Florestal Voluntário é uma
iniciativa que pode ajudar o setor privado a
tornar-se mais proativo no enfrentamento da
crise climática?
Patrícia
Daros – Sim, há uma
vinculação. O compromisso florestal começa como
uma entrega de áreas degradadas recuperadas,
mas no futuro pode se tornar uma entrega de
toneladas de carbono equivalente. Nós, do Fundo
Vale, queremos fortalecer esse ecossistema, em
uma perspectiva de fomento ou investimento, para
que outras iniciativas como a nossa possam
existir e escalar exponencialmente o impacto
socioambiental positivo.
Gustavo
Luz – Estamos mirando o
impacto socioambiental e, como resultado disso,
a contribuição para a agenda de carbono. É
possível esse compromisso apoiar o combate ao
desmatamento da Amazônia? Essa é uma das nossas
reflexões. Também estamos refletindo sobre qual
o preço justo por tonelada de carbono, para
evitar um incentivo reverso no mercado de
créditos de carbono. E como ir além da
compensação para entregar adicionalidades
socioambientais – uma abordagem que chamamos de
Carbono de Impacto. O importante é que não
estamos apenas tentando bater uma meta. Queremos
que os 100 mil hectares de recuperação florestal
sejam indutores de um milhão de hectares e que
outras empresas possam participar desse
movimento, da mesma forma que a sociedade como
um todo.
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O
Fundo Vale tem como prioridade assegurar a proteção e a privacidade de seus
dados, por isso, reforçamos nossos compromissos quanto à coleta,
armazenamento, formas de tratamento e compartilhamento de seus dados
pessoais, conforme previsto na Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD (Lei
13.709/2018).
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