Entrevista 01 – Português
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Interview in English, click here.
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Projeto ousado traz inovação para proteção e recuperação de florestas

Gestores do Fundo Vale abrem o primeiro capítulo da história que começou em alguns rabiscos em uma folha de guardanapo e se tornou realidade com a criação de cinco startups voltadas à recuperação de florestas – dentro de um projeto de larga escala e inovador

BELTERRA - META FLORESTAL 2021.7 (Saf Carajás)
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O Brasil abriga grande parte da biodiversidade e das florestas tropicais no mundo, recursos naturais que poderiam tornar o país líder na bioeconomia. Entretanto, a degradação de ecossistemas e o desmatamento, assim como o risco climático, estão em níveis alarmantes – contribuindo para a geração de impactos ambientais, sociais e econômicos negativos no país. Essa lógica precisa ser invertida e o setor produtivo tem um papel-chave nessa missão.

Desde 2009, o Fundo Vale aporta recursos para apoiar o fortalecimento de negócios de impacto socioambiental positivo e potencializar o desenvolvimento econômico sustentável em várias regiões do país. Seu mais novo desafio: gerir e apoiar o alcance do Compromisso Florestal Voluntário lançado pela Vale em 2019, que tem como meta restaurar e proteger 500 mil hectares de florestas até 2030.

Para contar os detalhes desse compromisso – incluindo objetivos, parcerias estratégicas e potenciais impactos positivos – e falar sobre a atuação do Fundo Vale nesse desafio, convidamos Patrícia Daros, Diretora de Operações, e Gustavo Luz, Gerente do Fundo Vale & Participações. Confira a entrevista completa:

Quais são os objetivos traçados para o Compromisso Florestal Voluntário 2030 e qual o papel do Fundo Vale nesse desafio?

Patrícia Daros – O compromisso florestal é da nossa mantenedora, a Vale. Mas vimos uma oportunidade de, com todo o nosso legado e histórico de atuação, propor à Vale um caminho interessante para atingir o compromisso de proteger e/ou recuperar 500 mil hectares além de suas fronteiras. Como o Fundo Vale tem trabalhado em parceria com muitas organizações na temática florestal nos últimos anos, entendemos que tínhamos a capacidade de ajudar a empresa a atingir esse compromisso. Vale dizer que criar impacto socioambiental sempre foi o nosso drive, o nosso diferencial enquanto organização não governamental.

Nós – eu, o Gustavo e um consultor que trabalha conosco – começamos com uma discussão sobre como seria possível manter a floresta em pé, a partir de um modelo produtivo sustentável, e desenhamos um esquema em um guardanapo. Depois de aprofundarmos a discussão, oferecemos à Vale uma proposta de trabalho com a perspectiva de restaurar 100 mil hectares por intermédio de negócios agroflorestais, capazes de gerar impactos sociais e ambientais positivos. Logo após, ampliando a proposta para a perspectiva da proteção florestal, pensamos em trabalhar com projetos de REDD+ para os demais 400 mil hectares, ou seja, projetos de desmatamento evitado com ganhos para quem está preservando essas áreas.

Gustavo Luz – Quando a Vale lançou esse desafio, havia a intencionalidade evidente de gerar impacto socioambiental positivo, mas ainda não havia um projeto detalhado. Então, o Fundo Vale, com sua experiência de mais de 10 anos no desenvolvimento de projetos de preservação e fortalecimento de cadeias produtivas, ofereceu uma sugestão para a empresa cumprir o desafio.

Nossa proposta foi sobre o Fundo desenvolver negócios agroflorestais para atingir 100 mil hectares de recuperação florestal e, posteriormente, projetos de REDD+ como alavanca para atingir 400 mil hectares de proteção florestal.
 
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Os sistemas agroflorestais (SAFs) têm relevância, porque são formas de recuperar áreas degradadas de modo produtivo, envolvendo parcerias com pequenos produtores, ou seja, podem gerar impacto social junto com o ambiental. Além disso, a agenda de proteção florestal foi pensada em um tripé de conservação ambiental, considerando também impactos sociais, combate ao desmatamento da Amazônia e contribuição para compensação de emissões de gases de efeito estufa. Desta forma, o Compromisso Florestal Voluntário da Vale está hoje sob a gestão do Fundo Vale.

Quais negócios de impacto estão sendo apoiados pelo Fundo Vale para alcançar a meta de recuperação de áreas degradadas?

Patrícia Daros – Quando iniciamos esse processo, em meados de novembro de 2019, não existia uma empresa pronta no mercado que pudesse escalar nessa perspectiva de 100 mil hectares. Então, investimos na originação e na incubação de duas startups agroflorestais – a Belterra e a Caaporã –, que nos ajudaram a implementar um projeto-piloto de recuperação de mil hectares por meio de SAFs. Ao mesmo tempo, avançamos na pesquisa de mercado de negócios agroflorestais com impacto socioambiental positivo e potencial de escala. Ao final de 2020, chegamos em um portfólio de empresas que eram aderentes ao nosso conceito.

Gustavo Luz – Paralelamente, lançamos uma proposta de inovação aberta, chamada Desafio Agroflorestal. Uma das participantes, a Inocas, acabou sendo incorporada ao nosso portfólio.

Hoje, apoiamos cinco negócios, que, por sua vez, são responsáveis por recuperar cinco mil hectares em 2021. Três deles foram originados dentro do Fundo Vale: Belterra, que trabalha sistemas agroflorestais com cacau como espécie-chave; Caaporã, que mescla produção de animais com árvores nativas; e Inocas, juntando produção de animais com a palmeira macaúba. Após avaliação de mais de 60 iniciativas existentes no mercado, priorizamos mais duas no nosso portfólio: a Bioenergia, que restaura áreas por meio da fruticultura orgânica na Bahia, sendo que 80% de seus trabalhadores são de origem quilombola; e a Regenera, a menos madura do portfólio, mas que trabalha com sistemas agroflorestais e silvipastoris no coração da Amazônia.
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“Não vamos fazer o mais simples, vamos fazer o de maior impacto.”

Gustavo Luz, Gerente do Fundo Vale & Participações

Quais são as organizações parceiras desta iniciativa e como a cooperação estratégica tem sido desenvolvida?

Patrícia Daros – Costumo dizer que um dos maiores ativos do Fundo Vale é sua rede de parcerias. E, no âmbito desse trabalho, não poderia ser diferente, afinal, ele tem um componente de inovação que requer que muitas expertises sejam compartilhadas para que seja alcançado um resultado mais efetivo.

A primeira parceria foi com a Impacto Plus, uma empresa que tem no seu time um conhecimento de Amazônia muito grande e que trouxemos para discussão sobre a estratégia da iniciativa. Depois a Palladium, uma consultoria internacional que já desenvolve programas com componentes de impacto socioambiental para ser nossa parceira na execução desse conceito. Para começar a colocar a mão na massa, fizemos parceria com a Florestas Engenharia, que foi um embrião das duas startups (Belterra e Caaporã) e teve início o processo de implantação dos hectares. Trouxemos também o Imaflora, uma organização muito conceituada em certificação florestal, para validar e certificar aquilo que estamos fazendo. Além disso, olhamos para as expertises que tínhamos dentro da Vale. Junto com o Instituto Tecnológico Vale, que atua há 10 anos na Amazônia, mapeamos quase um milhão de hectares de áreas degradadas e pesquisamos cadeias produtivas com potencial de recuperação, como a cadeia do cacau. Também trouxemos, para nos apoiar, a Reserva Natural Vale, que tem quarenta anos de experiência em pesquisas de silvicultura e projetos de reflorestamento.

Gustavo Luz – A nossa abordagem é: não vamos fazer o mais simples, vamos fazer o de maior impacto. E isso se dá por meio de parcerias. Paralelamente aos parceiros que a Patrícia citou, há mais duas instituições que estão nos ajudando a olhar o impacto da iniciativa. Uma é a Move Social, que trouxemos para fazer nossa teoria de mudança e escopo do investimento de impacto dos 100 mil hectares. Outra é a IETS, que conecta a avaliação de impacto da estratégia do Fundo Vale com a avaliação de impacto da nossa mantenedora, além de nos ligar com a academia, com a proposta de colocar instituições de ensino para acompanhar o projeto por 10 anos e avaliar o impacto gerado.

Com relação aos projetos de REDD+, como precisam de validação, estamos também fazendo reuniões com diversos atores – privados, públicos e da sociedade civil – para desenvolvê-los sempre com o olhar atento para a adicionalidade. Entendemos que faremos maior diferença a partir da originação de novos projetos com critérios socioambientais bem rigorosos e preço justo pelo carbono gerado a partir do desmatamento evitado.

O compromisso de recuperação e proteção de florestas, além de gerar benefícios ambientais, poderá beneficiar a economia e a sociedade brasileira no curto e/ou longo prazo?

Patrícia Daros – Com certeza. O que o Fundo Vale está fazendo não é só entregar tantos mil hectares de áreas recuperadas, implantar milhares de árvores na Amazônia ou em outro bioma. Estamos construindo um ecossistema de negócios de impacto socioambiental com foco em recuperação e proteção em larga escala. E isso é bastante relevante, porque pode mudar o mercado florestal no Brasil, pelo tamanho da iniciativa, bem como por todo o conhecimento que está sendo gerado. Também estamos buscando trazer uma alternativa econômica para quem vive na e da floresta.

Gustavo Luz – Temos um compromisso até 2030, mas estamos preocupados com o que vem depois. O investimento em negócios agroflorestais é crítico para esse legado pós-2030.

O impacto que estamos mirando, para além de plantar árvores, é geração de postos de trabalho e incremento de renda familiar, sobretudo para que quem viva da floresta tenha boa qualidade de vida e que sua atividade produtiva esteja conectada a uma cadeia de valor que se mantenha fortalecida após 2030. Também buscamos a distribuição justa dos benefícios financeiros dos negócios com quem vive da floresta. Somado a isso, estamos conversando com agentes de cadeias produtivas para desenvolver arranjos com potencial para recuperação florestal – analisamos mais de 15 cadeias, mas demos prioridade à da pecuária e do cacau.

“Estamos construindo um ecossistema de negócios de impacto socioambiental com foco em recuperação e proteção em larga escala. E isso é relevante porque pode mudar o mercado florestal no Brasil, pelo tamanho da iniciativa, bem como pelo o conhecimento gerado.”

Patrícia Daros,
Diretora de Operações do Fundo Vales

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O Compromisso Florestal Voluntário é uma iniciativa que pode ajudar o setor privado a tornar-se mais proativo no enfrentamento da crise climática?

Patrícia Daros – Sim, há uma vinculação. O compromisso florestal começa como uma entrega de áreas degradadas recuperadas,  mas no futuro pode se tornar uma entrega de toneladas de carbono equivalente. Nós, do Fundo Vale, queremos fortalecer esse ecossistema, em uma perspectiva de fomento ou investimento, para que outras iniciativas como a nossa possam existir e escalar exponencialmente o impacto socioambiental positivo.

Gustavo Luz – Estamos mirando o impacto socioambiental e, como resultado disso, a contribuição para a agenda de carbono. É possível esse compromisso apoiar o combate ao desmatamento da Amazônia? Essa é uma das nossas reflexões. Também estamos refletindo sobre qual o preço justo por tonelada de carbono, para evitar um incentivo reverso no mercado de créditos de carbono. E como ir além da compensação para entregar adicionalidades socioambientais – uma abordagem que chamamos de Carbono de Impacto.  O importante é que não estamos apenas tentando bater uma meta. Queremos que os 100 mil hectares de recuperação florestal sejam indutores de um milhão de hectares e que outras empresas possam participar desse movimento, da mesma forma que a sociedade como um todo.
O Fundo Vale tem como prioridade assegurar a proteção e a privacidade de seus dados, por isso, reforçamos nossos compromissos quanto à coleta, armazenamento, formas de tratamento e compartilhamento de seus dados pessoais, conforme previsto na Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD (Lei 13.709/2018).
 
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