03/07/24

Conheça a história da CAMTA, cooperativa apoiada pelo Fundo Vale, que é uma das pioneiras na implantação de Sistemas Agroflorestais no país  

Fotos: Divulgação/CAMTA 

Iniciativa apoiada pelo Fundo Vale no âmbito da Meta Florestal 2030 da Vale, que visa a recuperação de 100 mil hectares e a proteção de mais de 400 mil hectares para implantação de prova de conceito (poc), a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA) destaca-se como um exemplo de sucesso na implantação de agroflorestas. Com mais de 50 anos integrando culturas agrícolas e florestais, o Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA) tornou-se um modelo de referência para a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU) e reconhecido como Tecnologia Social (Fundação Banco do Brasil). O sistema utilizado pelos cooperados é reconhecido por sua eficácia na prevenção do desmatamento, na recuperação produtiva de terras e na expansão de sistemas agroflorestais que promovem o uso sustentável das florestas e a construção de cadeias de valor da bioeconomia.  

A CAMTA destaca-se por gerar impactos positivos significativos nas comunidades amazônicas da região, promovendo geração de emprego e renda, capacitação dos agricultores e preservação de práticas culturais locais. A cooperativa facilita o acesso a mercados e infraestruturas essenciais, contribuindo para a segurança alimentar, o fortalecimento da economia local e a redução da pobreza. Assim, a CAMTA e seus mais de 170 cooperados e mais de 2200 produtores fornecedores cadastrados pela sua agroindústria tornaram-se um exemplo de desenvolvimento sustentável na Amazônia, aliando conservação ambiental e inclusão social. 

Prova de conceito: mecanização de SAFs em escala   

Com o apoio do Fundo Vale, da Embrapa, da Natura e da Himev, a cooperativa deu mais um passo importante para viabilizar o acesso dos produtores da tecnologia da agricultura sem queima e mecanização. Em maio deste ano, a CAMTA adquiriu o primeiro trator da Patrulha Mecanizada para viabilizar a implementação da tecnologia de agricultura mecanizada e sem queima. A tecnologia faz a trituração da vegetação no preparo de áreas, sendo uma opção para o uso do fogo com aproveitamento da biomassa e redução da emissão de gases de efeito estufa, além da cobertura do solo, retenção de umidade e contribuição para a construção da fertilidade do solo.  

“É uma abordagem que busca otimizar a produtividade agrícola integrando tecnologias da agricultura de precisão pela mecanização, e minimizar os impactos ambientais negativos relacionados ao uso do fogo. Com o apoio do Fundo Vale, implementamos um projeto piloto em uma área de 20 hectares, que abrangeu quatro propriedades. A tecnologia se mostra eficaz e já estamos usando-a em expansões agrícolas de outros produtores da cooperativa”, conta Vicente Morais, Coordenador de Projetos da CAMTA.  

Do cacau à inovação das agroflorestas   

A história da CAMTA inicia-se 1929, quando imigrantes japoneses chegaram à Amazônia com a intenção de cultivar cacau, mas devido à falta de conhecimento sobre as técnicas de cultivo adequadas, os primeiros esforços falharam. Após a Segunda Guerra Mundial, a produção de pimenta-do-reino, concentrada no Sudeste Asiático, foi interrompida. Foi quando os imigrantes japoneses de Tomé-Açu, liderados por Makinosuke Usui, decidiram cultivar a especiaria e tornaram a região uma grande produtora e exportadora de pimenta-do-reino nas décadas de 50 e 60.  

Passado algum tempo, no entanto, a monocultura e a introdução de insumos químicos no cultivo levaram ao declínio da produção de pimenta-do-reino na Amazônia. Motivados pela necessidade de adaptação, na década de 1970 os imigrantes japoneses começaram a se inspirar nos sistemas de policultura dos ribeirinhos amazônicos, que imitavam a biodiversidade da floresta.   

“Os imigrantes japoneses adaptaram essas práticas tradicionais para fortalecer o sistema produtivo com combinações de diferentes culturas.  Adaptar o conhecimento que recebemos das comunidades locais foi uma estratégia importante para o desenvolvimento de sistemas agrícolas sustentáveis na Amazônia”, conta Ernesto Suzuki, produtor rural que atua na região desde 1965.  

Após testar mais de 200 combinações, foram definidos os modelos agroflorestais que restauraram a paisagem e tornaram Tomé-Açu um modelo de sustentabilidade. Os cultivos mais promissores foram reaplicados com espaçamentos agronomicamente definidos e combinações harmoniosas de plantas frutíferas e florestais. Essas iniciativas recuperaram a paisagem antes dominada por vastas plantações de pimenta-do-reino, transformando Tomé-Açu em um verdadeiro laboratório agroflorestal.