Primeiro dia de painéis do 3º FIINSA – Festival de Investimento de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia – é marcado pela diversidade dos painelistas e por diálogos construtivos em prol da consolidação justa do empreendedorismo sustentável
Foto: Take/FIINSA
Realizada em Manaus (AM) pelo Idesam e Impact HUB, com o Fundo Vale entre os principais patrocinadores, a 3ª edição do FIINSA – Festival de Investimento de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia – teve sua abertura oficial na manhã do dia 23 de outubro. A cerimônia iniciou com uma experiência de conexão com a cultura indígena, conduzida pelos contadores de histórias Maickson Serrão, do povo Tupinambá, e Tiago Hakiy, do povo Mawé, ao som de um canto do povo Maraguá. O momento incluiu uma pajelança cerimonial com compartilhamento do sapó, uma bebida tradicional indígena. Inspirada pela experiência emocionante, a plateia foi convidada a imergir na programação do festival guiada por três valores: colaboração, aprendizagem e alegria.
Em seguida, Mariano Cenamo, cofundador do Idesam, e Juliana Teles, do Impact Hub Manaus, apresentaram o propósito do festival: criar um espaço de diálogo e conexão entre os diversos atores que atuam na linha de frente da Amazônia. Eles contextualizaram que, apesar do crescente interesse global pela proteção do bioma, a região ainda enfrenta desafios ambientais, sociais e econômicos de alta complexidade.
“O FIINSA não é um fórum. Ele é diferente, porque é um festival. Nós não temos talks ou palestras, aqui a gente tem papo reto e olho no olho. O nosso objetivo é sair da zona de conforto, porque para quem empreende todos os dias na Amazônia, não existe zona de conforto. Geralmente, essas pessoas não têm voz em grandes eventos ou fóruns internacionais sobre investimentos em negócios e é isso que a gente quer proporcionar”, disse Cenamo.
“O termo bioeconomia, que tanto se fala hoje, mal era conhecido há seis anos, quando fizemos a primeira edição do festival. Nunca se falou tanto da Amazônia como hoje. Ocupamos espaços nas principais agendas em encontros internacionais, como o G20, Fórum Econômico Mundial e, ano que vem, sediando a COP 30 em Belém. Será que vocês conseguem sentir a relevância desse momento que a gente está vivendo?”, instigou Juliana.
Amazônia no Centro do Mundo
Foto: Take/FIINSA
O primeiro painel de diálogos do FIINSA, intitulado de Amazônia no Centro do Mundo: porque o Brasil não pode perder essa oportunidade, foi mediado por Mariano Cenamo e contou a participação de Ellen Aciolli, especialista em Amazônia do BID; Almir Suruí, liderança Paiter Suruí; Roberto Waack, presidente do Instituto Arapyaú; Eduardo Taveira, Secretário de Meio Ambiente do Amazonas e Rebecca Garcia, diretora da GBR Componentes.
Roberto Waack destacou que a Amazônia é vista sob múltiplas perspectivas – global, nacional e local – e todas ressaltam sua importância. No cenário global, ela representa um ativo diplomático e desafia o conceito tradicional de soberania – agora ampliado por incluir a crise climática e aspectos culturais e de conhecimento tradicional. Internamente, é preocupante que uma região de tamanha relevância e riqueza natural seja considerada secundária e receba baixos investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Para os habitantes locais, a Amazônia é uma confluência viva de natureza e diversidade cultural, com saberes únicos muitas vezes subvalorizados.
“Essa Amazônia de sonhos, saberes, desafios e condições de vida básicas precisa ser reconhecida. Quando falamos da Amazônia, é preciso entender em qual perspectiva estamos falando. Infelizmente, tanto no Brasil quanto no mundo, a Amazônia é vista de forma lateral, como um elemento novo na geopolítica, mas ainda bastante periférica”, comentou Waack.
Os desafios enfrentados pela região, especialmente a vulnerabilidade das comunidades locais devido à falta de oportunidades, foram amplamente discutidos. Os painelistas enfatizaram que a exploração irresponsável da Amazônia é frequentemente impulsionada por essa fragilidade econômica, tornando essencial a criação de governança inteligente e de novas oportunidades para os habitantes. Parcerias e diálogos entre diferentes setores foram apontados como caminhos para desenvolver a sociobioeconomia e outras soluções sustentáveis que beneficiem a floresta e as comunidades locais.
“Nós, povos indígenas, precisamos respeitados por nossa autonomia, nosso protagonismo. Sem Amazônia não há futuro, sem Amazônia não tem vida. O papel da floresta não é só ambiental, tem também o conhecimento que a Amazônia oferece para construir um mundo mais equilibrado e consciente”, declarou Suruí.
Economia da Floresta em Pé
Foto: Take/FIINSA
O segundo painel – Economia da floresta em pé da teoria para a prática: como transformar planos em realidade? contou com a moderação de Marcos Bessa, do Impact Hub Manaus e participação de Denis Minev, CEO da BEMOL e membro do conselho da Fundação Amazonas Sustentável (FAS); Neidinha Bandeira-Kanindé, defensora ambiental; Virgilio Viana, superintendente-geral da FAS ; Fernanda Náder Garavini, gerente no BNDES e Vanda Ortega, liderança indígena no Instituto Witoto.
A urgência em agir frente às mudanças climáticas e a necessidade de uma abordagem que valorize o conhecimento tradicional foram temas recorrentes nas discussões. Os participantes enfatizaram a importância de engajamento comunitário e do fomento de um ambiente propício para o desenvolvimento de uma economia que respeite a biodiversidade e os direitos dos povos indígenas. Além disso, abordaram a necessidade de uma visão integrada que considere as especificidades culturais da Amazônia.
Neidinha Kanindé destacou que não haverá negócios sustentáveis sem a demarcação de terras indígenas e unidades de conservação, ressaltando que a exploração econômica deve respeitar os direitos dos povos que habitam a floresta. Wanda Witoto e Denis Minev discutiram a importância de estruturar negócios de impacto que possam escalar e gerar benefícios profundos para a região, enquanto Fernanda Náder trouxe a perspectiva do BNDES sobre como o financiamento pode ser direcionado para apoiar iniciativas locais.
Empreendedores da floresta e negócios comunitários
Foto: Take/FIINSA
O painel que encerrou a programação da manhã no auditório principal recebeu empreendedores nativos da Amazônia. Moderado por Caetano Scannavino, coordenador do projeto Saúde e Alegria, o debate teve a participação de Daiana Silva, presidente da COOPERFLORA, Elisangela Cavalcante, da Movelaria ILC Cavalcante, Zeno Gemaque, da startup acelerada pela AMAZ Zeno Nativo e Ngrenhrarati Xikrin, da Associação dos Xikrin do Bacajá (ABEX).
Os painelistas compartilharam experiências de como suas comunidades se organizam para extrair valor dos recursos naturais promovendo a economia local e a preservação ambiental. É o caso da COOPERFLORA, que reúne quilombolas, indígenas e assentados nas atividades de extrativismo. Também discutiram os desafios enfrentados, como a pressão de grandes empreendimentos e a necessidade de capacitação e infraestrutura para apoiar o turismo de base comunitária.
A líder indígena Ngrenhrarati Xikrin falou sobre os desafios enfrentados na venda dos produtos gerados na comunidade, como óleo de coco babaçu, castanha e tecidos pintados, especialmente pela dificuldade de deslocamento até as cidades em busca de mercados. “Muitas pessoas ainda compram nosso produto barato, mas lá para fora eles vendem muito caro. Então, eles se aproveitam das nossas coisas. Então hoje eu estou aqui pedindo para os investidores conhecerem e investirem no nosso trabalho”.
Os empreendedores também expuseram os desafios enfrentados pelas comunidades amazônicas devido às secas severas, que, por causa da baixa dos rios, comprometem o acesso aos locais de coleta de insumos e à mercados, agravando as condições econômicas e sociais. A urgência de enfrentar os desafios foi abordada como um apelo para que as políticas públicas sejam adaptadas e respondam às necessidades imediatas das comunidades, garantindo resiliência para as populações tradicionais.
Os painelistas concordaram que é fundamental que as vozes das comunidades locais sejam ouvidas nos processos de tomada de decisão e que as políticas públicas devem ser adaptadas para atender às realidades específicas da Amazônia. A colaboração entre diferentes setores, incluindo governo, empresas e comunidades, foi vista como essencial para transformar a teoria da economia sustentável em prática.
Sobre o 3º FIINSA
O 3º Festival de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis é uma realização do Idesam e do Impact HUB Manaus. Tem patrocínio do BID, Fundo Vale, ICS, Mercado Livre, BNDES, Grupo Rede Amazônica, Instituto Sabin, Natura, Instituto Meraki, Instituto Arapyaú, Marjom, Estúdio Moi, Vox, JBS Fundo Pela Amazônia, Amazônia em casa Floresta em pé, PPBio e AIC.
Entre os parceiros institucionais e estratégicos estão as iniciativas Saúde e Alegria, NESST, LATIMPACTO, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, FAS, Imaflora, Assobio, Jaraqui Valey, Aquiri Valley, Tucuju Valley, Tambaqui Valley, Ashoka, Impact Hub Brasil, Felicidad Collective, Academia Amazônia Ensina, Climate Ventures, Foresti, Amazônia Agroflorestal, Sitawi, Conexão Povos da Floresta, Bemol, Singulari e Banzeiro.