Em sua 3ª edição, o festival reúne mais de 800 pessoas do ecossistema de impacto para debater desafios e impulsionar oportunidades em um ambiente colaborativo e diverso
Juliana Teles (Impact Hub Manaus) e Mariano Cenamo (Idesam) | Foto: Take/FIINSA
Entre os dias 22 e 25 de outubro, Manaus se transformou em um polo de diálogos, vivências e conexões entre pessoas engajadas no ecossistema de impacto. Realizado pelo Idesam e o Impact HUB – com o Fundo Vale entre os principais patrocinadores – a 3ª edição do FIINSA (Festival de Investimento de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia) aconteceu sob o lema “Fazer fala mais alto” e teve um público três vezes maior do que o da primeira edição, realizada em 2018. Estiveram presentes mais de 800 pessoas de diferentes setores, origens, etnias e ocupações concentradas no mesmo propósito: impulsionar e fortalecer a inovação e o empreendedorismo que gera benefícios socioambientais na região amazônica.
O evento contou com mais de 90 painelistas e 30 mesas de debates. Investidores, representantes de povos tradicionais, empreendedores da floresta, organizações sociais, startups, empresas e órgãos governamentais sentaram lado a lado para compartilhar diferentes visões e experiências. Os debates se desenvolveram em seis trilhas: “Construindo um ecossistema de impacto na Amazônia”; “Caminhos do empreendedorismo na Amazônia”; “Desenvolvimento territorial”; “Economia da floresta em pé”; “Valores da Sociobiodiversidade” e “Pessoas que impactam”.
Além dos debates, o FIINSA promoveu 24 conexões entre investidores e empreendimentos nas rodadas de negócios organizados pela ForestFi e pela AMAZ, com a participação do Fundo Vale em uma das bancas. Ao todo, 17 negócios fizeram pitches em sessões fechadas, com uma expectativa de captar, nos próximos dias, mais de R$ 1,7 milhão ao todo.
“Estamos vivendo um momento desafiador, especialmente na Amazônia. Por um lado, temos uma janela de oportunidades, particularmente no campo dos negócios sustentáveis. Por outro, a crise climática se impôs como nunca, neste segundo ano de seca extrema. Muitas coisas positivas estão acontecendo, inclusive em políticas públicas. Vemos avanços em negócios de sociobioeconomia, com a chegada constante de investidores, novos fundos de investimento e programas de reforço. Enxergo este momento como uma grande oportunidade para mostrar que a Amazônia tem uma economia diferenciada e promissora”, declarou Márcia Soares, gerente Amazônia e Parcerias do Fundo Vale.
Experiências de campo
Sítio PANC | Foto: Take/FIINSA
No primeiro dia, o FIINSA trouxe uma novidade: uma tarde dedicada a experiências de campo em Manaus. Divididas em cinco grupos, 280 pessoas visitaram locais como o Sítio PANC, que explora o uso culinário de Plantas Alimentícias Não Convencionais, e o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), que integra ciência e saberes tradicionais para soluções de impacto positivo. O Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (CIDE) apresentou startups inovadoras, enquanto o Impact Hub Manaus e o Casarão Cassina ofereceram oficinas sobre impacto social e modelos de negócios. No Parque das Tribos, os participantes conheceram projetos sociais dedicados a comunidades indígenas urbanas.
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Perspectivas do ecossistema de impacto na Amazônia
Vanda Witoto | Foto: Take/FIINSA
Na manhã do segundo dia do festival, os painéis discutiram a relevância global e local da Amazônia, a urgência das mudanças climáticas, a valorização dos povos tradicionais e os desafios enfrentados pelos empreendedores da floresta. Os painelistas enfatizaram que a exploração irresponsável da Amazônia é frequentemente impulsionada por uma fragilidade socioeconômica, tornando essencial a criação de novas oportunidades para as comunidades.
“As pessoas têm medo de investir na gente. E eu quero dizer para vocês que não tenham medo, nós é que deveríamos ter medo de muitas coisas que nos é imposta. Mas vocês não precisam ter medo”, disse Vanda Witoto, liderança indígena e diretora executiva do Instituto Witoto.
Leia a matéria completa sobre a manhã de debates do segundo dia do FIINSA.
Na parte da tarde, 12 painéis promoveram diálogos sobre temas como a eficácia dos investimentos na região, os desafios logísticos e de comercialização, a cooperação em ecossistemas de impacto, os desafios das mudanças climáticas para os negócios locais, desenvolvimento territorial, contratos justos, entre outros.
Painel Construindo o Impacto Coletivo | Foto: Take/FIINSA
Nathália Cipoleta, da Gerência de Estratégia, Gestão e Impacto do Fundo Vale, participou do painel Construindo o Impacto Coletivo, que também contou com representantes da Move Social, Conexus, Climate Ventures para debater desafios e soluções da gestão e mensuração do impacto socioambiental.
Leia também: Fundo Vale debate gestão e mensuração de impacto no FIINSA
Fundo Vale reúne parceiros para celebrar marco de 15 anos
Do Fundo Vale: Márcia Soares, Gustavo Luz, Nathália Cipoleta e Liz Lacerda
A noite de 23 de outubro foi marcada por um jantar especial oferecido pelo Fundo Vale aos parceiros presentes no FIINSA, e que apoiam o Fundo Vale em seu propósito de gerar impacto socioambiental positivo na Amazônia.
“Esse jantar faz parte da celebração dos 15 anos do Fundo Vale e simboliza essa comemoração dos progressos alcançados, apesar dos desafios atuais na Amazônia. Temos muitas conquistas positivas, oportunidades à vista e pessoas que acreditam em um futuro diferente. Todos vocês que estão aqui são exemplos de quem trabalha e acredita que uma agenda positiva e transformadora é possível. Essa é a mensagem que queremos deixar.” declarou Márcia Soares gerente de Amazônia e Parcerias do Fundo Vale.
Na ocasião, o Fundo Vale fez o lançamento da revista “Amazônia, passado, presente e futuro da floresta”, edição especial da Stanford Social Innovation Review Brasil (leia a matéria sobre a publicação aqui). linkar
Caminhos para fazer acontecer
Gustavo Luz participou de debate sobre investimentos de impacto | Foto: Take/FIINSA
No segundo dia, os painelistas discutiram a expansão de investimentos de impacto nas comunidades amazônicas. Enfatizou-se a necessidade de inovação nos modelos de investimentos e a criação de confiança entre investidores e empreendedores locais. Gustavo Luz, diretor executivo do Fundo Vale, destacou o uso do blended finance, que combina filantropia e capital de mercado, como essencial para fortalecer negócios sustentáveis na região.
Os desafios específicos da Amazônia, como logística e eventos climáticos, foram abordados como aspectos que devem ser considerados na consolidação de parcerias de empresas e investidores com as comunidades. “O Fundo Vale tem se empenhado em desenvolver soluções que permitam ajustar o capital às necessidades dos negócios, em vez de adaptar os projetos às estruturas tradicionais de capital”, comentou Luz.
“O FIINSA me trouxe muitas oportunidades de entendimento, não só do ecossistema de startups, que é nascente e pujante, mas também de tudo que envolve o empreendedorismo de impacto. Há um grande poder aqui e uma noção de comunidade e de valores que às vezes não percebemos. Saio daqui com aprendizado e muitas ideias na bagagem”, disse Juliana Sarilio, Gerente de Corporate Venture Capital do Banco do Brasil.
Leia a matéria completa sobre a manhã de debates do terceiro dia do FIINSA
Foto: Take/FIINSA
À tarde, aconteceram mais 12 painéis sobre desafios e aspectos mais específicos sobre o empreendedorismo de impacto. Houve debates sobre os desafios e oportunidades do mercado de carbono, o impacto na Amazônia na perspectiva feminina, os erros na prospecção de investimentos, turismo, perspectivas de moda, arte e design, o papel das lideranças jovens, a representatividade de pessoas negras, entre outros. Também aconteceu o BIOHUB, um momento para o ecossistema encontrar insumos, soluções, serviços e produtos para cadeias produtivas na Amazônia.
Rachel Maranhão é CEO e cofundadora da Mabé Bio, uma startup de tecnologia verde que desenvolve novos materiais à base de plantas. Seu primeiro produto é um material alternativo à couro animal, projetado para atender diferentes setores que buscam substituir materiais altamente poluentes por opções que sejam positivas e regenerativas para a natureza. Para ela, o FIINSA foi uma experiência rica e uma oportunidade de estabelecer novas conexões.
“Estou muito surpreendida positivamente. Eu não conhecia o ecossistema aqui na região da Amazônia, não conhecia os diferentes atores, então para mim foi muito importante entender como as coisas funcionam, quem são as peças-chave e para quem a gente pode pedir apoio”, declarou.
20 anos do Idesam
Durante o evento, também aconteceu a celebração dos 20 anos do Idesam, uma das instituições criadoras do FIINSA. Durante um almoço, que contou com a presença de todos os colaboradores da organização, além de parceiros, foram relembradas conquistas e homenageadas pessoas que fizeram parte dessa história.
O Fundo Vale foi um dos homenageados, representando todo o grupo de financiadores da organização, pela parceria desde os primeiros anos do Idesam. “Apoiamos o café Apuí quando era um projeto ainda, por volta de 2013, no contexto dos municípios verdes. Depois o negócio, o PPBIo (Programa Prioritário de Bioeconomia) até a aceleradora AMAZ, é uma longa trajetória de parceria e confiança”, destacou Márcia Soares.
Mercado Amazônia
Foto: Take/FIINSA
Outro grande destaque da edição do FIINSA foi o Mercado Amazônia, que gerou cerca de R$ 115 mil em vendas. Realizado sob a coordenação da Inatú Amazônia e curadoria de AMAZ Aceleradora de Impacto, Assobio, Amazônia em casa Floresta em Pé e Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), o espaço reuniu mais de 50 marcas. A curaria foi pensada para apresentar uma diversidade de produtos com origem sustentável e valorização da sociobiodiversidade da Amazônia, incluindo itens alimentares, cosméticos, artesanatos indígenas e peças de moda.
“A curadoria envolveu marcas que têm garantia de rastreabilidade de seus produtos, comércio justo, e um cuidado não só com a natureza, mas com as pessoas que vivem na Amazônia”, explicou Louise Lauschner, especialista em comercializações de Cadeias Produtivas Amazônicas do Idesan.
Encerramento
Foto: Take/FIINSA
A terceira edição do FIINSA encerrou com uma festa de celebração com a apresentação de músicos regionais e dos tradicionais Bois Garantido e Caprichoso. A organização comemorou o sucesso do festival.
“A força aqui é gigante, a energia que fluiu nessas salas nesses dias foi enorme. “Durante os três dias, houve um ambiente de respeito e colaboração, onde as ideias foram compartilhadas de forma construtiva, mesmo quando divergente. O nosso sentimento é de dever cumprido”, comemorou Mariano Cenamo.