05/06/23

O relatório fornece uma visão geral do setor durante o ano de 2021. É uma ferramenta de análise do contexto e tomada de decisões para ação coletiva do mercado de investimento de impacto no Brasil, setor estimado em R$ 18,7 bilhões. 

A Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), rede global composta por mais de 220 organizações que promovem o empreendedorismo em mercados emergentes, lançou o Relatório de Investimentos de Impacto no Brasil de 2021. Esse é o quarto relatório focado no país e foi preparado em parceria estratégica com o Fundo Vale, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e a Potencia Ventures; com análise realizada pela Pipe Labo. 
 
No evento de lançamento, realizado dia 17 de maio, Liz Lacerda, do time de Parcerias e Fomento do Fundo Vale, participou do painel Investimentos de Impacto em Clima e Biodiversidade.  

O relatório  traz o cenário mais atualizado do mercado de investimento de impacto a partir de conversas com 38 organizações que investem no Brasil.  

“Por meio de dados institucionais e empresariais compartilhados pelos investidores, este relatório fornece uma visão geral de onde e como o capital é alocado, além de identificar os desafios enfrentados pelo ecossistema de impacto. Isso o torna uma ferramenta importante para analisar o contexto e tomar decisões para ação coletiva neste campo”, diz Henrique Bussacos, presidente do conselho da ANDE Brasil. 

De acordo com o estudo, em 2021, foram observados tanto o aumento do volume de investimento quanto a chegada de novos atores no setor. O mercado de investimento de impacto no Brasil continuou a crescer e agora está estimado em aproximadamente R$ 18,7 bilhões. Em relação ao levantamento de dezembro de 2020 (R$ 11,5 bilhões), o volume de ativos sob gestão reportado é cerca de 60% maior. 

Sobre a relevância desse tipo de pesquisa, Patricia Daros, Diretora do Fundo Vale, afirma: “Nosso foco são os negócios de impacto na agenda de floresta e clima. Entendemos a importância de alocar recursos tanto para fortalecer esses negócios quanto para o ecossistema ao seu redor, bem como para veículos financeiros que possam investir neles. Mas para entender melhor os movimentos desse campo e onde estão os gaps de investimento, onde os recursos da filantropia podem fazer diferença, é fundamental a produção constante de conhecimento. E apoiar estudos como este é uma maneira de fazer isso”. 

Quando a coleta de dados começou, em 2021, a pandemia da COVID-19 ainda era uma realidade latente, por isso o relatório oferece algumas informações sobre como esse contexto influenciou os interesses do setor. Também ressalta como a diversidade ainda é um tema complexo, sendo que mais de um terço dos investidores que responderam sobre gênero e raça não coletam essas informações sobre seus conselhos de administração ou na liderança das organizações. 

No que se refere a isso, Itali Colini, da Potencia Ventures, afirma: “Ao analisar os dados, observamos um aumento no interesse por temas como pobreza, trabalho decente e educação. Os investidores estão respondendo às profundas consequências da pandemia, como desemprego, empobrecimento das profissões e dificuldades de acesso à digitalização, entre outros. Por outro lado, também podemos ver que os decisores ainda são predominantemente brancos e do sexo masculino. A demografia nos mostra que a diversidade é uma questão urgente!” 

O relatório também indica que há quatro setores no top de interesse dos investidores:  

  1. Alimentos e Agricultura; 
  1. Educação;  
  1. Saúde;  
  1. Biodiversidade e Conservação de Ecossistemas.  

“Há muito interesse em Biodiversidade por parte dos investidores, mas ainda há pouco investimento concretizado em negócios desse setor. Isso reforça a importância do investimento do setor filantrópico direcionado a fortalecer e preparar negócios de temáticas menos consolidadas para que, gradativamente, tenham maior chance de receber investimentos que objetivam retorno”, diz Guilherme Karam, Gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário. 

Principais conclusões do relatório, segundo a ANDE: 

  • Generalidades: Cerca de 40% dos membros do grupo de investidores tradicionais declararam ter acima de R$ 100 milhões sob gestão em 2021.  
    – Foram reportados 319 negócios, em 2021.  
    – Sobre expectativas de retorno, 24 investidores indicaram buscar retornos de mercado sobre seus investimentos, enquanto 11 buscaram algum tipo de retorno abaixo do de mercado. 
     
  • Crescimento do setor: Salta aos olhos o expressivo aumento do AUM mapeado por esta pesquisa em relação à sua edição anterior, que trouxe os dados do mercado em 2020. No grupo de investidores tradicionais, foram mapeados R$ 11 bilhões, um aumento de quase 150% em relação aos R$ 4,4 bilhões da pesquisa anterior. 
     
  • Novos perfis de investimento: Mais investidores estão entrando nos estágios de Pré-Semente e de Empresas privadas maduras, em relação ao estudo anterior. Isso indica uma maior diversificação do setor. 
     
  • Mudanças Climáticas: É importante ressaltar que 71% dos investidores têm entre seus investimentos feitos entre 2020 e 2021 algum negócio de impacto voltado para os desafios das  mudanças climáticas. Sendo que 26% têm a totalidade dos investimentos de negócios de impacto com essa pauta.  
     
  • Impacto: Observando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU priorizados pelos investidores, há no horizonte aquecimento para os investimentos e consequentemente para os empreendedores relacionado a Trabalho e Renda, assim como Erradicação da Pobreza. Mensurar o próprio impacto das iniciativas ainda é um desafio. 
     
  • Diversidade: De forma agregada, dos 250 conselheiros citados, 167 são homens e 83 mulheres. Entre os 240 membros de cargos de liderança, 169 são homens e 71 são mulheres. Os dados de raça ou cor são mais desafiadores. Entre as organizações que reportaram dados sobre esse tema, há uma concentração muito grande de conselheiros brancos, apenas três do total de 162 são de outras raças ou cores.